sábado, 28 de janeiro de 2012

Sobre o filme: DES HOMMES ET DES DIEUX

Do diretor francês Xavier Beauvois, nascido em 1967, o filme narra a história (real) vivida por oito monges trapistas, no Mosteiro de Atlas, nas montanhas da Argélia, onde uma sangrenta guerra civil compõe o momento político e social do país.

O filme começa com o Salmo 81, no sentido de invocar uma justiça divina, que liberte a alma humana das intrigas da maldade: Eu disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo. No entanto, como seres humanos, morrereis e, como qualquer dos príncipes, caíreis.

As cenas iniciais, então, mostram, sem nenhuma pressa, o local onde vivem oito monges cristãos, cercados por uma comunidade muçulmana, muito simples e pobre, e em visível harmonia. Frei Christian (Lambert Wilson), eleito como a autoridade do Mosteiro, anteriormente, foi um soldado francês que lutou durante a libertação da Argélia, ao lado da França. Esse ex-soldado e, agora monge, fala árabe e também lê e estuda o Corão.

O pavor e o medo surgem quando terroristas avançam e operários croatas são brutalmente assassinados, numa zona localizada bem perto daquela comunidade. Ao contrário dos demais habitantes, porém, os monges podem contar com diversas opções: aceitar a proteção militar, ficar ou ir embora para a França.

Os monges, que não buscam converter muçulmanos, mas sentem-se parte daquela comunidade, não professam o martírio em sua doutrina. A decisão a ser tomada, no entanto, não é nada fácil para eles; se as dúvidas afloram, a fé também. Sentimentos de súplica e lamentação, tomam forma ao cantarem o salmo 142 (3). Mesmo assim, decidem ficar.

A conseqüência da decisão tomada, então, surge na cena final que, aliás, se contrapõe sobremaneira as imagens coloridas apresentadas no início e durante o filme; agora, é o domínio do gélido e da paisagem fria, encoberta cada vez mais por uma névoa densa que vai apagando as imagens na tela, indicando a morte silenciosa do monges, reféns de um grupo terrorista que não conseguiu negociar com a França.


Os oito monges trapistas discutem sobre que decisão tomar diante da situação






O QUE FICA DEPOIS DA NÉVOA...


A constatação de uma trilha sonora, composta apenas pelos cantos gregorianos que, cantados pelos monges, é a expressão do momento interno e externo vivenciado. Num dos ultimos salmos cantados, inclusive, o já citado 142 (3), sente-se claramente a situação desesperadora e solitária em que estão, restando apenas encontrar uma resposta através da fé. Um outro espaço onde a música se faz presente, relembra a Ultima Ceia: cena extremamente bela e triste, sem nenhuma fala oral, quando ao som do Lago dos Cisnes, de Tchaikovski, rostos cujos olhos e bocas sorriem, choram, indagam, e refletem sobre o mistério da morte e da fé.

Apesar de tudo, talvez, a principal mensagem dessa história contada, principalmente, por Christian e Beauvois, seja a possibilidade real de conviver em paz com o outro, mesmo esse outro professando uma crença aparentemente diferente. Isso, porém, não se dá com simplificações que massificam e generalizam.


Por Eliane Silva/PUCRS

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

4ª Marcha pela Vida e Liberdade Religiosa comemora avanços e lança campanhas contra a intolerância religiosa

Líderes religiosos de matriz africana e umbanda mobilizam adeptos e simpatizantes para o seminário dia 20 e caminhada no dia 21 de janeiro de 2012 em Porto Alegre. Sob o slogan Unidos seremos fortes, a 4ª Marcha Estadual pela Vida e Liberdade Religiosa pretende mobilizar grande número de adeptos e simpatizantes no dia 21 de janeiro de 2012, em Porto Alegre. O movimento, que teve início em 2009, reúne religiosos de matriz africana e umbanda da capital e do interior, além de convidados de diversas regiões do Brasil. Nesta edição, que homenageia Mestre Borel – Ancestralidade Negra, Babalorisa e Alagbe que faleceu em 2011 e que participou de todas as outras marchas, os participantes comemoram um importante avanço: o comprometimento do governo do Estado de atender reivindicações apresentadas dia 21 de novembro de 2011, em reunião no Palácio Piratini com o Governador.
No documento entregue ao governador Tarso Genro, os religiosos, lembrando que o Rio Grande do Sul é o estado que abriga o maior número de terreiros do Brasil, reivindicam o assentamento imediato de uma representação dos Povos de Terreiro no Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico Social – CEDES; a criação de um Conselho de Políticas Públicas para Povos de Terreiro, vinculado ao Gabinete do Governador, com o objetivo de pensar e construir ações afirmativas e políticas públicas; e a transformação da Coordenadoria de Igualdade Racial em uma Secretaria com estrutura para o desenvolvimento de políticas voltadas para o Povo Negro, sem deixar de incluir os Povos Indígenas. Quanto ao CEDES o assento já foi assegurado e as outras reivindicações estão tramitando.
A 4ª Marcha, terá uma extensa programação. Como no ano anterior será realizado um seminário e neste será lançado o Mapa da Intolerância Religiosa no Brasil – importante documento que visualiza o que vem sendo o mote desta manifestação e também terá o lançamento da Campanha “Democracia, Paz e Religião: Respeite! Promovida pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidencia da República, no dia 20 de janeiro no Auditório Dante Barone. Esta marcha se caracteriza contra a intolerância religiosa e o racismo, é promovida na capital gaúcha pela RENAFRO-SAÚDE-RS, com o apoio do Gabinete do Povo negro da Prefeitura de Porto Alegre, SINDISPREV e SINDISERF e tem na comissão organizadora as seguintes parcerias CEDRAB/RS, GPUC-UFRGS, MNU/RS, AFRICANAMENTE, FORMA/RS, GT - AÇOES AFIRMATIVAS, CEUCAB, UNEGRO-RS, YAHYA PRODUÇÕES, ATRAI, ESTAF, EGBE ORUM AIYE, ILE AXÉ YEMONJA OMI OLODO.A concentração inicia às 14h, em frente ao Mercado Público Central, com saída às 16h, Avança pela avenida Borges de Medeiros até o Largo Zumbi dos Palmares e de lá vai para a Usina do Gasômetro. No encerramento em frente ao rio Guaíba, são homenageados os orixás das águas.

Histórico
Motivada por diversas denúncias, a 1ª Marcha foi realizada em 21 de janeiro de 2009 - Dia Nacional de Mobilização Contra a Intolerância Religiosa, com a participação de 2.000 pessoas. Os organizadores entregaram ao Governo do Estado um documento reivindicando a implementação da Delegacia contra a Intolerância Religiosa e o Racismo. Protocolaram também uma ADIN - Ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei 13085 de 5 de dezembro de 2008 - "Lei da Mordaça Religiosa”.
Caravanas de todo o estado mobilizaram-se para a 2ª Marcha, que integrou a programação do Fórum Social Mundial 10 Anos, em 2010, e teve a adesão de diversas organizações governamentais e não governamentais do estado e do cenário nacional. Foi uma edição que marcou com a campanha "Quem é de axé, diz que é!", preparando os adeptos para o Censo de 2010.
A criação de uma comissão inter-religiosa vinculada ao Gabinete do Povo Negro do Município, para dar conta de toda a demanda relacionada à intolerância religiosa, e a construção e implementação de políticas públicas para terreiros foram reivindicações da 3ª Marcha, em 2011. Um seminário precedeu a caminhada, com o objetivo de discutir o Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa e o Estatuto Estadual, da Igualdade Racial, reunindo lideranças das religiões de matriz africana e do Movimento Negro de todo o país.

Nesta edição, retomar as reivindicações ainda em aberto, como a da delegacia Contra Intolerância Religiosa e realizar o seminário, é uma de suas metas de maior importância.


Por Hendrix Silveira

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Novos números de revistas com a temática do GT

Foram lançados novos números de revistas que abordam a temática do GTHRR uma delas é o nº11 da Revista Cultura y Religión díponivel em http://www.revistaculturayreligion.cl/, e também o nº. 2 v.11 da REVER - Revista de Estudos da Religião disponível em http://revistas.pucsp.br/index.php/rever.

Com artigos muito bons, vale a pena a leitura.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Dica do GTHRR-RS

"Festa, religião e cidade, corpo e alma do Brasil" obra da antropóloga Léa Freitas, além de ser uma das obras editadas pela Editora Medianiz, pertencente à professora e historiadora Elizabeth Torresini, que possui um amplo trabalho de escrita, edição e divulgação de importantes obras históricas, se trata de um livro que acredito ser importante para a temática do nosso GT. Ele traz ensaios vigorosos sobre a cultura brasileira, abordando essas três formas fundamentais de ligar a sociedade (festa, religião e cidade), por intermédio das quais se realizam a troca e a comunicação, dois fundamentos essenciais da vivência humana em coletividade, conforme define a autora.
Além da preciosa análise dos aspectos fundamentais da ligação entre festa, religião e cidade no Brasil, Léa Perez aborda importantes traços de nossa história, dando destaque para alguns clássicos da historiografia brasileira e apontando o surgimento e o desenvolvimento da cultura religiosa no Brasil. Também sugere ao leitor, através de recorrentes notas, importantes estudos antropológicos e sociológicos sobre o tema, reunindo em um só livro um vasto e completo acervo bibliográfico desse campo de conhecimento.








Anna Boneberg/UNISINOS

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

De santos a Maradonas: os múltiplos objetos do crer

“Entendo por crença não o objeto do crer (um dogma, um programa, etc), mas o investimento das pessoas em uma proposição, o ato de enunciá-las considerando-a verdadeira – noutros termos, uma modalidade da afirmação e não o seu conteúdo”. Michel de CerteauDias atrás fui incitada a ver um filme que dialoga com amores e devoções: O Caminho de San Diego ( 2006). Mais do que uma obra sobre a devoção argentina por Diego Armando Maradona, o filme retrata com sutileza, respeito e consistência elementos que os estudiosos das religiões e religiosidades discutem há tempos. A história narra a paixão de Tati pelo jogador Maradona, uma paixão que extrapola o usual pela sua profundidade e agudeza. O nome da obra refere-se ao longo caminho (depurador??) realizado por Tati para entregar um outro símbolo de devoção ao próprio jogador quando de sua internação e complicações de saúde.
Maradona, o número 10, o clube Boca Juniors, os espaços em que transita e vivia tornam-se, para muitos dos seus seguidores e admiradores, locais de culto e devoção, como também de mortificação em prol de sua cura.
Caminho de San Diego nos instiga a refletir sobre os meandros do crer, sobre as consistências e inconsistências que levam homens e mulheres a atitudes tidas como exageradas em prol do que acreditam ser correto, verdadeiro, legítimo e, porque não, imprescindível.
Fica a dica. Abaixo a ficha técnica.
Gizele Zanotto (PPGH/UPF)

O CAMINHO DE SAN DIEGO
(El Camino de San Diego, 2006)
A ação acontece na selva do noroeste argentino. Ali, em uma cabana precária, vive Tati Benítez (Ignacio Benítez) com sua família. Tati perdeu seu trabalho e ajuda Silva (Miguel González Colman), um velho escultor para quem busca troncos, ramas e raízes que podem servi-lhe para fazer suas obras. Em troca recebe uma porcentagem pelas vendas que conseguir realizar entre os poucos turistas que chegam ao mercado da cidade vizinha. Como a maioria dos argentinos, Tati tem adoração por Diego Armando Maradona. As paredes de sua casa estão cobertas de fotos de seu ídolo, e guarda, como o tesouro mais precioso, o ingresso do jogo em que o viu em plena ação. Apesar de sua dramática situação econômica, Tati não perde seu espírito jovial. Além disso tem outra razão para seu otimismo: encontrou uma gigantesca raiz de timbó (uma árvore típica da região) com uma silhueta que ele acha parecida a Maradona, a qual tentará entregar pessoalmente a Diego. A notícia do ingresso de Diego na Clínica Suíço - Argentina de Buenos Aires por um problema cardíaco é motivo suficiente para que Tati inicie assim sua grande aventura."

CURIOSIDADES
- Do mesmo diretor de A Janela e O Cachorro.
PRÊMIOS
- Prêmio Especial do Júri e indicado ao Golden Seashell do Festival de San Sebastian em 2006
FICHA TÉCNICA
Diretor: Carlos Sorin
Elenco: Ignacio Benítez, Carlos Wagner La Bella, Paola Rotela, Silvina Fontelles, Miguel González Colman, José Armónico, Toti Rivas, Marisa Córdoba
Produção: Óscar Kramer, Hugo Sigman
Roteiro: Carlos Sorin
Fotografia: Hugo Colace
Trilha Sonora: Nicolás Sorin
Duração: 98 min.
Ano: 2006
País: Argentina
Gênero: Comédia
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definidaFonte: http://www.cineclick.com.br/filmes/ficha/nomefilme/o-caminho-de-san-diego/id/16561